sábado, 12 de março de 2016

Armadilhas do Tempo



O teu amor é minha voz trêmula tentando te dizer adeus, e minhas mãos inertes não querendo te acenar. O teu amor estava na estátua do Senhor morto, nas roliças pombas das praças, estava na medalhinha do cordão dourado em teu peito batendo em meu rosto enquanto me amavas. Estava nos olhos com que me miravas nesse momento, cujo olhar parecia vir de um lugar fora do tempo e espaço.

Mas ah...estava mais ainda em minha alma, tão entranhado em minha alma que ela arranhou-se toda nos espinhos da saudade que me atravessaram antes mesmo de minha partida. E o trem chegou, tão veloz, tão veloz...e me levou de ti numa sofreguidão indiferente que não deu por conta do meu espectro parado ainda lá, na estação a te olhar. Ficou para trás meu desejo de dias contigo, te acompanhando pelas escadarias em que subimos nós e desceste só.

Teu amor foi tão grande que não permitiu que eu te visse partir, pois sabias que meu coração congelaria no momento em que me desses o último olhar. Preferiste tu ser aquele deixado para trás, acenando e correndo atrás do comboio que me levava, chorando, a uma vida sem ti.

Mas eu sei que o silêncio é a pausa entre duas palavras de carinho, e a saudade é a pegada que o amor deixou: um dia andarei sobre meus próprios passos, refazendo o caminho que me afastou de ti, e encontrarei ainda a sombra de tua imagem na estação, impregnada como almíscar nas rendas do tempo. E nesse dia, do fundo do silêncio, eu ouvirei a tua voz a me chamar, e cada rosto que cruzar por mim verá a luz daquela que vai reencontrar seu grande amor, pra nunca mais, pra nunca mais, se separar.


Do teu amor, Bíndi!