segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Vampira...





Vampira...

A noite entra pela janela com o vento
Que desenha formas sombrias nas cortinas
Meu corpo é todo um arrepio de presságios
Minha alma tece o agora com os retalhos do passado

Saudades...desejos...anseios...por que? por quem?
Sinto falta de rever as paisagens que jamais vi
Sonho todas as noites com rostos que não conheço
Acordo para esquecer os sonhos torturantes

Os pios das aves noturnas anunciam...ele vem, enfim
Pressinto sua chegada, a janela estremece,
jasmins e lírios se desmancham sobre meu corpo
repasto do seu apetite, prisão da minha alma

Quero-o...ainda que seja minha perdição
Sinto-o...mesmo que venha de outro universo
Vejo-o...e o reconheço, meu Lord feiticeiro
Toma-me e leva-me: já não mais me pertenço

Minh'alma farta de te esperar, enfim,
Entrega a ti um corpo para o sacrifício.
Derrama o sangue que unirá as vidas para sempre
Quero alimentar-te de mim, ser eu em ti, eternamente.


Bíndi

domingo, 15 de setembro de 2013

As Mãos Vazias do Cristo



Quando a luz da madrugada tremeluzente luzia
Janúncio pegou a enxada e foi ao labor do dia
Passando pela igrejinha, em sinal de reverência,
fez o sinal da cruz, pra Deus ter dele clemência.
Mas a sua alma encravada em corpo robusto e sadio,
de dúvidas era cercada: seu coração era frio.
Era simples, o Janúncio,
como milhões de outros tantos,
que não sendo bandidos nem santos
são cidadãos dormentes do mundo
​Que​ se deitam letárgicos à estrada
para que por eles passe
o comboio das ilusões
que os encontra, modorrentos,
fecundos mas sonolentos,
vivendo ao sabor dos ventos
e ao pendor de suas paixões.

Certo dia entrou na igreja um Janúncio enfastiado,
viu o Cristo em seu estrado
de mãos vazias​,​ chamando.
Em sua mente pareceu 

que o Cristo era assim o modelo
do povo pobre, sofrido, que nada tinha de si
a não ser o pão dormido que servia de alimento
que vivia sem alento e precisava de rezas
que era culpado de algo 

desde o princípio dos tempos
que precisava de trilhos para seguir o comboio
e se assemelhava ao trigo, sufocado pelo joio.
Tudo isso fundo calava no coração do Janúncio.
Sua visão se turvava, mas lá do fundo sentia
crescer uma idéia furtiva, ao olhar de novo o Mestre
que sobre o estrado jazia:

Nas mãos vazias do Cristo
cabem todas as virtudes
também erradas atitudes
com que todos viemos à luz
Ele nos estende as mãos limpas
e cheias de liberdade
pra vivermos com sinceridade
os preceitos de Jesus
as mãos vazias do Cristo
nos falam do colo amigo,
do acolhimento irrestrito,
pois não somos pecadores
(não mais que pardais e flores).

Nosso engano foi esquecer
da fonte que nos gerou:
limpa, serena, excelente
que a alma não mais dormente
pode encontrar somente
no momento em que acordou.




Bíndi 

*Imagem: Cristo de mãos vazias - Flávio Scholles

domingo, 7 de julho de 2013

Manu e o pão da vida



Manu era ainda jovem, muito jovem, quando conheceu Camar. Viu-a amassar um pão, deixar a massa aguardando na bacia por horas para depois pacientemente abri-la, e achou tudo muito demorado e pouco prático. "Por que não coloca a massa no forno de microondas?", perguntou a ela. 
Camar sorriu e sentou-se, serviu um café e o adoçou com açúcar mascavo, como sua avó fazia, e o ofereceu a Manu. 
"Sabe", disse Camar, "nunca entendi como alguém pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Mas me parece que é o que todos tentam fazer atualmente...É como tentar caminhar com uma perna em cada margem do rio, para ver as duas margens de uma vez só...você precisa das duas pernas juntas pra caminhar, não é? Esta é a lei da vida, assim fomos criados...o pão que faço, leva fermento biológico. O fermento da Vida...E o fermento, e a vida, precisam de tempo pra crescer, e para todas as coisas que estão dentro da massa poderem revelar a si mesmas. Posso fazer um pão nestes fornos modernos, com fermentos rápidos, mas ele não terá o mesmo sabor, porque não dei à Vida o tempo que ela precisa para a maturação.

Você já me perguntou noutro dia sobre minha estante de livros...livros velhos, de capas manchadas por mãos de várias gerações que muito os manusearam..."pra que guardar essas velharias, Camar, se vc pode ler tudo na internet?" você me indagou. Mas eu gosto, Manu, da sensação de ter a estória entre minhas mãos...e poder sentir demoradamente cada palavra, onde quer que eu esteja. Adoro ler debaixo das laranjeiras, na minha rede...sei que eu poderia levar os equipamentos modernos pra lá, mas eles não têm a simples praticidade de um livro, que não quebra ao cair ao chão, não precisa de energia nem baterias, e tem a paciência e a humildade dos anjos, permitindo ser compartilhado, emprestado, doado, lido e relido, revirado, revisitado, seja à luz da candeia ou da eletricidade. Assim, as palavras vão germinando lentamente dentro de mim, botando folhas, desabrochando em idéias... 

 Não que eu não goste das modernidades que me dão conforto e poupam muito trabalho...mas algumas coisas ainda têm que ser feitas como nos velhos tempos, com paciência, dando tempo à vida. Assim você deve crescer, Manu, sem que ninguém acelere seu ritmo pra caber na moda do imediato, porque assim como um bom pão, um bom caráter precisa de tempo e esforço e de mãos firmes pra ser moldado e acabado...

 

sábado, 29 de junho de 2013

Eu Vim (N.P.)




Eu vim de mundos tão longe, que nem saberia contar
Vim trazendo a poeira de terras, as faíscas de astros, o vapor das nebulosas
Tudo aquilo que vi e ouvi na jornada de tantas vidas, trouxe em minh'alma
porque desejava ser um pouco de tudo pra ti: planeta longínquo,
sol que se apaga, estrela que nasce, mundo novo recém criado
 Mas em frente a ti eu cheguei, e vi
Que buscavas tão somente uma alma companheira.
Joguei aos meus pés a poeira dos mundos, e nasceram as flores da simplicidade
Lancei de minhas mãos as faíscas dos astros, e surgiram as chamas da paixão
Deixei no ar o vapor das nebulosas, e ele formou a respiração do puro amor
De tudo me despi e só ficou de mim, o meu ser primordial, o Eu que tudo abarca,
a mulher que estava dentro de todas as mulheres que fui e serei,
as experiências de todas as vidas que vivi, e os projetos das vidas que terei.
E vislumbrando todas elas, nelas te vi, a cada uma com um rosto,
mas sempre o mesmo homem que desde a eternidade amei e amarei.
Eu vim...e na noite escura despi teu manto terreno, e te encontrei.

Ghost, amor de meu corpo e minha alma, que inspira tudo de mais belo e nobre em mim, pra você são todos os meus versos, todos os meus dias, todos os meus sonhos...eu amo você.

Bíndi



domingo, 17 de março de 2013

Myeisha



Myeisha

Olhando aquele casal...carinhosos um com o outro como sabiás na primavera
alguns imaginam que caminham em pétalas de flores
que nasceram com a sina de um amor eterno e bom, 
e que tudo lhes foi dado, do céu caído, perfeito e acabado.
Mas como todos os seres deste mundo,
seu caminho é também crivado de pedras
seu céu turvado de invejas, mesquinhas opiniões, ópios do mundo...
Quantas vezes cometeram erros?
Quantas vezes perdoaram?
Quantas noites conversaram para no fim dormirem abraçados?
Quanto de doação e carinho, perseverança e compreensão
é preciso para pavimentar a estrada
onde passará, majestoso e sublime, o cortejo do amor?
O amor é perfeito, mas a criatura é vulnerável...
Amar é o destino, mas a viagem é laboriosa.
Olhe aquele casal...quanto de amizade para manter a paixão?
Quanto de paixão para incendiar a amizade?
Quantas vezes irmãos, depois do amor ardente?
Após extenuar no leito, quantas vezes o ombro para chorar?
Olhe aquele casal...todos os dias, eternamente, reaprendendo o segredo de amar.

Para meu amado...
Ghost, obrigada por afagar minha alma com teu amor.

Bíndi

**Myeisha - na língua africana, significa "a que é muito amada".


sábado, 2 de março de 2013

Amor,Sublime Amor



http://esquinadosversos.blogspot.com


 Amor, sublime amor!
(saudade de ti, pai)

Sob todos os aspectos
Em todas as dores
Em qualquer tempo
Sob lágrimas ou sorrisos

Ante o irmão carente
Diante do acusador cruel
Diante de provas difíceis
Ante o céu estrelado e o dia nublado

Na saudade
Na distância
Na solidão
No regresso

Olhando jardins
Observando catástrofes
Orando aos céus por piedade
Agradecendo aos anjos pela paz recebida

Alma irmã, o amor é sempre a essência de tudo
Na face da Terra...tudo passará
Mas no país das estrelas
O Amor é tudo que nos guiará...hoje e sempre, amém!

(A ti meu querido pai...saudade de vc, meu herói, meu exemplo)

Ghost

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Buscando...


Desejei ser sábia, ter nobre coração, 
e impregnei minha vida de meditações e teorias
Ouvi opiniões, entre elas, a de desaprender de tudo
De tudo desligar-me, desapegar dos sentimentos todos
e empreender viagem rumo acima, de maneira reta e fria.


Mas quanto mais eu procurava, mais e mais eu me perdia
pois os conhecimentos sobravam, mas a alma...era vazia.
E eu me senti tão pobre...
Sem amor eu nada era, sem amor eu nada seria, sem amar
Não entendia nada do mundo, nada do mundo eu conhecia...

Pois que a única coisa que dá sentido à tapeçaria da vida,
não se encontra nos velhos e novos alfarrábios, 
livros sagrados, palavras, filosofias...

Foi junto com você, meu amor, que aprendi 
Que amar não cria laços, mas abre portas
Que não se perde a liberdade num abraço
e um beijo unindo dois corações não os separa
do resto da humanidade, posto que Amor
é feito da chama que vem da mesma e única Fonte
Só se aprende a amar amando...
E um ser douto mas desanimado, letrado que não ama e é mal amado
Levará do mundo umas poucas glórias, e um coração vazio.


De Bíndi, inspirado por teu amor, Ghost!



Confissão (N.P.)



Me ama pra sempre, me ama sem medo...
Me goste do jeito que gosto de ti...
Que te amo e te adoro não é mais segredo,
Pois nada que sinto jamais te omiti...

Te quero demais, aqui e agora,
E não menos te quero em nosso futuro...
Teu beijo eu desejo, meu bem, toda hora
Tua alma é meu sol, meu amor, eu te juro...

Benzinho, amorzinho, momô, meu tesouro,
Meu tudo, tesudo, amado, gostoso,
Palavras que falam de um bem duradouro
Com que chamo meu homem num tom carinhoso...

Mas palavras são nada perante o que sinto,
Ainda que tudo com que posso expressar
O amor ardoroso que trago em meu peito
Que chega a doer, corroer, me afogar...


Para Ghost, com todo meu amor.

Bíndi
♪❤♪