Numa certa manhã, num dia comum, eu me dirigia ao trabalho, preocupada e aborrecida...como as distâncias são imensas nessas cidades abarrotadas...! Dez minutos parecem dez dias no barulho infernal do trânsito. Parei num cruzamento, movimentado, onde pensei ficar por um bom tempo esperando os carros cruzarem indiferentes e velozes até conseguir seguir meu caminho. De repente, um deles parou, e me deu espaço para que eu cruzasse. Naquele momento, um raiozinho de luz atravessou meu peito, furando a sombra de aborrecimento que me cercava...foi um gesto tão simples, que me surpreendeu por ser inesperado e desinteressado, mas que conseguiu mudar o rumo do meu pensamento, que ia por um monótono mastigar de melancolia, e tomou um caminho de agradecimento pela pequena esperança que a gentileza me concedeu...
Uma amiga, protetora de animais
abandonados, costumava levar um saco de ração e galões de água em seu carro.
Quando passava por lugares em que via animais abandonados, parava e deixava um
pouco à beira do caminho, para que os tristes cães e gatos tivessem uma
refeição para o dia. Certa vez, alguém que a acompanhava questionou o porquê
daquilo: se ela não passasse mais por ali, no outro dia faltaria novamente
comida àqueles animais..."Eu dei a eles mais um dia de vida", disse
ela..." Talvez seja hoje ou amanhã que alguém olhará para eles com
humanidade, e se decidirá a alimentá-los sempre, ou adotá-los, e este dia fará
diferença...dei a eles mais uma chance...Muitas vezes, tudo o que precisamos, é
apenas mais um dia."
Nunca deveríamos nos envergonhar de fazer pequenos
gestos...um pequeno bom dia, um pequeno sorriso, um poeminha alegre, aquele
copo de água gelado que nada nos custou mas que fará tanta diferença para o
cansaço do vendedor ambulante naquele escaldante verão...muitas vezes esperamos
oportunidade de grandes atos fraternos, e nos tolhemos os gestos humildemente
humanos...mas a gentileza é a fraternidade em pequenos goles, o heroísmo em
doses miúdas. Os pequenos milagres não são menos milagres.
Bíndi